sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

ANA MARIA BRAGA E A VERSÃO DO MORTO

Talvez não dê em nada, pois o morto, Marcelo Vieira, não poderá desfrutar de qualquer benefício material que possa se originar na ação civil que sua família moverá contra a apresentadora Ana Maria Braga e a Rede Globo; contudo, pode ser que a partir desse episódio, a separação do ex-capitão e Suzana Vieira, algumas constatações venham à tona e sirvam para mudar a agenda dos itens televisivos que levam “entretenimento” a milhões de brasileiros.
Traição, troca de marido e mulher em tempo recorde (sem trocadilho com a emissora concorrente) são temas banais e obrigatórios nas novelas da Rede Globo, e fora das novelas, entre os “artistas”, esse fato também é corriqueiro na maioria dos casos.
As revistas e sites de “celebridades” vivem à custa das fofocas envolvendo a vida pessoal das “estrelas”; vira e mexe um astro se mexe e se vira com outra que não seja sua atual mulher, trocando-a por outra como troca de camisa (e isso se aplica às mulheres com igual freqüência); porém, como diria o presidente Lula, nunca na história da Rede Globo um apresentador se utilizou do horário para chamar qualquer desses “astros” de vagabundo, mau-caráter e cafajeste, como fez Ana Maria Braga no seu “Mais Você”, do dia 24 de novembro passado, logo após vir a público a separação dos Vieira, Marcelo e Suzana. Culminando suas ofensas grossas e injustificáveis ao ex-capitão, Ana Maria Braga afirmou que seria um fato maravilhoso que ele sumisse da terra, um eufemismo peculiar aos que gostam de dizer a alguém: “morra!”
A primeira constatação a partir desse fato é que existe um sentimento de superioridade na classe artística, que leva alguns artistas a se sentirem de fato deuses em relação aos seres comuns. São uma classe especial, a cujo ego e excentricidades todos devem se sujeitar, aliás, cultuar, cultivar e financiar, à medida que são essas pessoas comuns que pagam o salário desses artistas cada vez que vão às compras adquirir os produtos que patrocinam as novelas e produtos televisivos idiotizantes. Somos idiotas à medida que gostamos de assistir, de nos entreter com programas que servem exatamente para esse fim, não adicionando à nossa leitura da realidade uma virgula, uma reticenciazinha sequer...
Como conseqüência dessa primeira constatação, a outra é que muitos artistas (e nessa categoria incluo os apresentadores de programa de auditório, programas matutinos, etc.) acham-se acima do bem e do mal, assumindo uma postura arrogante diante de determinadas situações, como se o fato de serem donos das manhãs, tardes e noites nas TVs atribuísse a eles a condição de juízes da consciência alheia, julgando e condenando em nome de milhões de estúpidos sentados nos sofás, tomando coca-cola e comendo sanduíches da Mac’Donald.
Uma outra constatação é que esses “astros” das tevês não admitem intrusos em seu meio, numa demonstração clássica do corporativismo de espécie. Como admitir que um ex-policial, um reles e mortal anônimo, que teve a sorte de se casar com uma deusa da televisão, tenha o despautério de se julgar no direito de se comportar como se fosse um artista? Sim, porque isso se deduz da indignação de Ana Maria Braga, adultério, traições e outros assuntos correlatos são exclusivos da classe artística. Quem é (era) esse Marcelo? Para Ana Maria Braga, um pilantra que se aproveitou da carência de uma ingênua artista, como a Suzana Vieira.
Que esse processo - eu espero que a família não desista de movê-lo, suscite, por menor que seja, a lição de que, ao contrário do que pensam os donos de TVs, aqueles que usam uma concessão pública para levar à população “qualidade e entretenimento” não estão acima do princípio básico de qualquer meio de comunicação: o respeito à pessoa humana, o direito à ampla defesa e ao contraditório, elementos absurdamente negados ao ex-capitão Marcelo Vieira, que, agora morto, jamais poderá contar aos brasileiros a sua versão dos fatos.”

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