quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

TU, MORTA EM MEUS BRAÇOS

o sonho que tive ontem
o olhar sobrepunha imagens,
visualizava um horizonte,
talvez um paraíso, onde mulheres nuas dançavam valsas
sob a luz da lua, e tu entre elas,
carregando um sorriso irônico,
como se quisesses dizer: no fim tem o preço!
que preço é esse?
quanto custa esse onírico prazer?
a visão de uma lúdica dança,
um corpo esguio, esquivo, suave, limpo,
dando-se às línguas, à minha, quem sabe,
sugado por lábios famintos,
sequiosos pelo líquido feminino,
e na dança o cheiro do sexo
atingia o nariz enfadado,
e percorria o corpo até chegar lá,
no espaço onde a dureza e a rudeza
do intumescido ser parece abdicar
da instância imediata que o torna
repugnante à alma feminina,
por sua essência metafórica
que o transforma em espada,
em ferrão, ferro e fogo,
capaz de subjugar seu habitat natural
com fúria e desprezo,
levando a vulva escancarada
a sentir-se um vilipêndio e um asco.
por isso tantas mulheres nos desprezam,
os homens, machos que bebem o sangue
de sua vítima, ébrios, insanos, déspotas.
e acordo do sonho
para ver se meu sangue ainda é azul
se no meio dessas ondas hepáticas
quando o cérebro vasculha teu sexo anis púrpura
de cólera infinita mulher que eras sempre
a mais divina das que dançavam em meu sonho
e descobri uma pureza falsa
agora quero ser a agulha que vaza teus olhos negros
para dentro de mim restar o vácuo
ou mais que isso: o éter inaugurado palco de amor
o gozo quase infantil diante da tua vulva escancarada
sob a rudeza de cores mortas em meu coração em brasas
é... senhora, que me vês acordado e desolado, quem te ama?
não serei teu, esse meninozinho inquieto
que descobriu a iimensidão do abismo
no vasto e insensato vazio que somos nós (homens).
quisera eu que o sonho desta noite,
continuasse em novos parâmetros,
talvez contigo em meus braços, morta,
rubra e alva, coberta de sangue e de esperma!

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